De qualquer maneira, fomos corajosos o suficiente para inscrever um trabalho no Congresso da Associação Psiquiátrica Americana em 1960, em Atlantic City/New Jersey e, para a nossa surpresa, o artigo foi aceito. E fui notificado que Dr. Franz Alexander seria o comentarista do meu artigo. Dr. Franz Alexander, muitos de vocês sabem, era um psicanalista muito conhecido, interessado em Medicina Psicossomática e tinha escrito um livro sobre isso e eu também sou interessado nessa área, mas não podia entender como alguém dedicado à Medicina Psicossomática havia sido indicado para discutir meu trabalho sobre Psicoterapia Breve, isso não parecia fazer sentido. Ora, fazia sentido, sim, porque ele tinha também escrito um livro, não propriamente sobre Psicoterapia a Curto Prazo, mas chamado Psicoterapia Psicanalítica, no qual descrevia modificações que ocorriam em certos pacientes, o que ele chamava "uma experiência emocional corretiva" ("a corrective emotional experience"). Isso implicava em que alguém, digamos, com maneiras mal adaptadas de manejar problemas, graças à interação com o terapeuta, pudesse desfazer essas respostas mal adaptadas através de uma "experiência emocional corretiva" com o terapeuta. Para fazer isso, Alexander descreveu alguns tipos de manipulações da transferência, querendo dizer, por exemplo, que se um paciente tinha dificuldade com homens em posições de autoridade, tendo um terapeuta masculino e esperando, portanto, que as mesmas dificuldades iriam aparecer no tratamento, se o terapeuta agisse de uma maneira muito mais de apoio e compreensão, isso daria ao paciente uma oportunidade de desfazer algumas de suas expectativas. Essas modificações técnicas eram olhadas com menosprezo pelo grupo psicanalítico ortodoxo, e, portanto, o livro era desconhecido nos círculos psicanalíticos e, como eu era um candidato à Sociedade Psicanalítica, nunca tinha sabido do livro.

Na véspera da minha apresentação no Congresso da APA, havia uma secção sobre Franz Alexander no New York Times. Pensei que era uma coincidência fantástica e, naturalmente, quis ler sobre meu debatedor do dia seguinte. A primeira coisa que li foi sobre esse livro, que eu não conhecia, e imaginei o meu embaraço para o dia seguinte, o Dr. Alexander perguntando "Bem, qual a diferença entre o seu trabalho e o que eu descrevi no meu livro e, naturalmente, eu não sabia nada a respeito do livro". Mas o New York Times dizia outras coisas também, que Alexander era um formidável debatedor, com uma tendência a rasgar os artigos de que não gostasse. Com essas informações pouco confortantes, não dormi bem à noite. No dia seguinte, o local estava cheíssimo, naturalmente, por causa de Franz Alexander, que era muito famoso. E quando ele levantou para discutir o trabalho, olhou para os nossos critérios de seleção e afirmou que "Bem... no que dizia respeito a ele, ele possivelmente não conseguiria ser incluído". E ajuntou: "Pelo amor de Deus, voltem para Boston e afrouxem esses critérios, vocês tiveram cinqüenta pacientes em quatro anos e isso é uma desgraça, quando há milhões de pessoas que podem se beneficiar com essas técnicas de tratamento; a única coisa é que vocês têm critérios muito restritivos e, portanto, se vocês alargam esses critérios, vocês terão muito mais pacientes".