Uma das abordagens para descrever o nosso funcionamento mental classifica esse funcionamento em quatro áreas sem limites muito precisos mas estreitamente relacionadas entre si. Essas áreas são as seguintes:

Sensopercepção- como percebemos e compreendemos o nosso corpo e o mundo ao nosso redor- através da visão, da audição, do cheiro, da pele

Intelectual - nossos pensamentos, memória

Motora- nossos gestos e comportamento

Afetiva- nossos sentimentos- como gostamos ou temos raiva, estamos alegres ou tristes em relação a nós mesmos, ao nosso corpo, as outras pessoas e o nosso mundo.

Diferentes doenças afetam essas diferentes áreas.

As doenças correspondentes são mau funcionamento da área de afeto da nossa personalidade são os chamados Trastornos de Humor e são classificadas como as doenças ou síndromes depressivas e as doenças bipolares.

A palavra Humor, aí, não tem o sentido comum da palavra Humor, em português, no sentido de algo jocoso ou engraçado; aí a palavra tem sua origem no antigo sentido da palavra humor. Na Grécia, chamavam "humores" o que entendiam como sendo os líquidos ou fluidos no nosso organismo. Consideravam que temos quatro humores, o sangue, a fleugma ou fleuma , a bile amarela e a bile negra. O humor Sangue tem o mesmo significado que para nós hoje. A fleugma consistia nos líquidos claros, ou sejam suor, lágrimas, liquido existente entre as nossas células (a linfa) e o plasma do sangue (a parte do clara se retirarmos os glóbulos vermelhos). A bile amarela era a que se armazena na vesícula biliar e consideravam que a bile negra estava ocupando o baço. Até há algumas décadas, as desordens de humor eram chamadas "desordens afetivas", termo que ainda é muito usado, alternativamente ao de "desordens de h um o r".

A partir da teoria dos humores, atribuíam as variedades do temperamento das pessoas à suposta predominância de um ou outro humor. O tipo sanguíneo era o das pessoas. A pessoa sanguínea era a das emoções de alegria, entusiasmo, otimismo, das pessoas mais vigorosas. Eram chamadas fleugmáticas as pessoas menos ativas, e que deixam transparecer menos as suas emoções. A bile amarela se suponha provocar as emoções de irritabilidade e raiva, ambição, inveja e ciúmes. A bile negra era responsabilizada pelo estado das pessoas que hoje inclu ímos entre as com doença depressiva- retraídas, sem vigor, pessimistas. De "bile negra" provem a palavra "melancolia" - pois "melan" em grego significa negro.

Na classificação das doenças, as palavras Transtorno e Distúrbio ou Desordem correspondem ao que mais comumente, na linguagem coloquial, chamamos doença. Na classificação em inglês é usada a palavra "disorder" que nas classificações em português foi traduzida como Transtorno. Síndrome em Medicina significa um conjunto de sintomas. Síndromes, portanto, são os conjuntos de sintomas que caracterizam as diferentes doenças a que estamos sujeitos. Sintomas é a palavra para designar um sinal de doença, um sinal doentio.

As síndromes depressivas correspondem ao que há alguns anos se chamavam depressões unipolares. A denominação doenças bipolares substituiu o termo que se usava antes, de psicose maníaco-depressiva. Psicose Maníaco-depressiva era uma designação mais restrita, pois muitos pacientes com os sintomas maníacos ou depressivos não tem os sintomas das psicoses. Psicose se refere ás doenças em que a pessoa percebe ou interpreta o mundo ao seu redor como acentuadamente diferente do que ele realmente é, digamos, "fora da realidade", sem poder avaliar corretamente a si própria e o mundo real ao seu redor. Mania, na expressão "maníaco-depressiva" não tem o sentido comum atual em português, de "cacoetes" ou hábitos arraigados. Também tem sua origem na Grécia, para descrever uma loucura no sentido de excitação ou agitação.

Atualmente, em Medicina, "mania" se refere a um estado de excitação ou agitação em que a pessoa fica exageradamente ativa, muito loquaz, num estado de grande alegria sem um motivo correspondente adequado e com diminuída necessidade de sono. A atividade excessiva não é produtiva e a pessoa pode ter comportamentos inconvenientes, como fazer gastos excessivos ou ter comportamento sexual impróprio. Em vários pacientes, a alegria desmesurada se alterna com irritabilidade. Algumas pessoas podem ter sintomas de psicose, como crenças grandiosas e irreais a respeito de si mesma e do mundo ao seu redor. Um estado semelhante ao da mania, de hiperatividade e muita alegria sem um motivo justificado é chamado de "hipomania".

 

AS DEPRESSÕES OU SÍNDROMES DEPRESSIVAS 

As pessoas em depressão apresentam uma variedade de sintomas, tais como:

- na área dos sentimentos, tristeza ou falta de prazer, aflição, muitas vezes severa,

- como alterações de comportamento, falta de vigor, com apatia, muitas vezes não saindo da cama e não cuidando da sua higiene; os pacientes com ansiedade, pelo contrário, ficam inquietos, ás vezes caminhando contin uadamente;

- na área do pensamento, ideias de desvalorização, remorso e autor recriminações, culpando-se por incidentes triviais, muitas vezes passado há muitos anos; preocupações e remoções sobre o futuro, com ideias de fracasso e ruína; nalguns pacientes, ocorrem ideias delirantes, de estarem sendo malquistos e condenados por outras pessoas;

- na área das sensações e de como percebem o mundo ao seu redor, podem apresentar alucinações auditivas, por exemplo ouvindo a voz de pessoas conhecidas lhes fazendo acusações;

- Sintomas neurovegetativos é uma expressão que engloba as alterações de funcionamento corporal nos pacientes depressivos. Incluem -se alterações de sono e apetite, também de funcionamento sexual. As dificuldades de sono em geral correspondem a acordar no meio da noite ou de madrugada e não conseguirem mais dormir. Se o paciente também apresenta ansiedade, a insônia pode incluir não conseguir adormecer e passar a noite acordados ou conseguirem dormir apenas pelas cinco ou seis horas da manha. O paciente perde o apetite e, há poucas décadas, muitos pacientes sem tratamento perdiam dez ou quinze quilos de peso. Em outros pacientes (como parte do que chamamos episódio depressivo atípico, pelo contrário, há excesso de sono e de apetite com aumento marcado de peso.

Conforme os agrupamentos desses sintomas, temos a seguinte classificação:

• Episodio Depressivo Maior, com o subtipos Melancólico, Atípico e Sazonal
• Desordem Distímica ou Distimia
• Desordem Depressiva Menor
• Desordem Depressiva Recorrente Breve
• Desordem Disfórica Pré-Menstrual
• Desordem de Ajustamento com Humor Depressivo
• Depressão Psicótica

No livro "Não Aguento mais, Dr.!" - apresentamos a definição e exemplos desses diversos quadros depressivos.

 

AS SÍNDROMES MANÍACAS

Nas síndromes maníacas, a pessoa apresenta alegria exagerada, exuberante. Há sensações e ideias de grandiosidade, com grande otimismo, previsão de grandes realizações. Muitos pacientes sentem os pensamentos em fluxo muito rápido - o que se manifesta também na fala. O paciente tem pequena necessidade de sono, pode passar mais de uma noite sem dormir. Encontra-se hiperativo, muitas vezes improdutivo porque muda de uma atividade para outra sem concluir nenhuma. Pode haver exageros de comportamento, com desinibição sexual ou compras e gastos excessivos.

Chamamos de Disforia quando se misturam impaciência e irritabilidade, mas sem os sentimentos de tristeza dos pacientes com depressão. Muitas vezes com irritabilidade.

Chamamos Síndrome hipomaníaca quando esses sintomas se apresentam mas em menor intensidade

Dizemos que está tendo um Episódio Maníaco o paciente que apresenta as alterações da síndrome maníaca durante ao menos uma semanas.

Episódio Misto - chamamos episódio misto quando o paciente durante pelo menos uma semana apresenta, no mesmo dia, tanto sintomas do tipo de Episódio Depressivo Maior como os sintomas de Episódio Maníaco.

Episódio Hipomaníaco é o que chamamos quando a pessoa apresenta, ao menos por quatro dias, os sintomas do tipo maníaco mas em menor intensidade.

 

AS DOENÇAS BIPOLARES

Chamamos de Doença Bipolar quando o paciente apresenta pelo menos um episodio depressivo e um episódio maníaco ou hipomaníaco.

Podemos classificar as doenças bipolares nos seguintes tipos:

• Doença Bipolar I
• Doença Bipolar 11
• Doença Bipolar de Ciclos Rápidos
• Doença ciclotímica ou ciclotimia
• Hipomania recorrente breve
• Desordem Ciclotímica - um período de ao menos dois anos de humor variável, com sintomas depressivos assim como hipomaníacos
• Doença Bipolar com Hipomania Breve Redicivante

Na doença bipolar I, a pessoa tem episódios depressivos e ao menos um episódio de síndrome maníaca. No caso de um paciente que teve apenas um episódio de mania sem episódios de depressão chamamos de Mania com episódio único.

A doença bipolar 11 é o caso das pessoas que tem um ou mais episódios depressivos Maiores e pelo menos um episódio de hipomania - aquele estado semelhante à mania, mas com alterações menos intensas.

Doença Bipolar de Ciclos Rápidos é a doença em que o paciente apresenta ao menos quatro episódios depressivos ou maníacos em um período de 12 meses.

Chamamos Ciclotimia quando a pessoa, por um período de pelo menos dois anos, apresenta humor variável, com oscilações para o polo da tristeza ou da hiperatividade e alegria num nível exagerados, mais intenso do que o normal das pessoas, mas sem chegar à intensidade de dos sintomas de um episódio depressivo e nem de um episódio de mania.

A Hipomania Recidivante breve é o caso das pessoas que tem repetidos episódios de hipomania de curta duração.

 

ESPECTRO BIPOLAR

Há muitos pacientes com os sintomas depressivos e maníacos ou hipomaníacos típicos, permitindo os diversos diagnósticos de depressão unipolar ou bipolar. Contudo, há também muitas pessoas em que os sintomas não são tão delimitados. Chamamos espectro depressivo o conjunto desses vários situações de pessoas com sintomas depressivos ou de aceleração, sem ser possível que preencham claramente os critérios para os diagnósticos de doença unipolar ou bipolar.

Não sabemos claramente o quanto os diversos tipos de doença do humor são semelhantes ou diferentes entre si. Por exemplo, não sabemos ainda o quanto aquelas depressões com recaídas frequentes tem em comum com as doenças bipolares. Assim, atualmente, vários dos medicamentos disponíveis (especialmente os estabilizadores de humor e eventualmente os antipsicóticos são usados tanto para os pacientes com doença depressiva recidivante como para os pacientes com doença bipolar.

 

DIAGNOSTICO DIFERENCIAL

Algumas doenças, em Medicina, tem sintomas típicos e característicos que nenhuma outra doença apresenta. Nessas doenças, o diagnóstico pode ser determinado com sem maiores dificuldades, com um razoável grau de certeza. No entanto, na maioria das doenças, os sintomas são os mesmos ou semelhantes aos de várias outras doenças. É necessário que o médico seja cuidadoso, para estabelecer um diagnóstico, excluindo outras doenças com sintomas parecidos. Esse procedimento é o que chamamos Diagnóstico Diferencial.

 

DEPRESSÃO UNIPOLAR, DOENÇAS BIPOLARES E ESPECTRO BIPOLAR

Naturalmente, nos pacientes com sintomas depressivos, é necessário estabelecer o diagnóstico correto. Sintomas parecidos com os das depressões também são apresentados por pacientes com doenças físicas, por exemplo, doenças de tireoide ou algum problema cerebral não psiquiátrico. Com um paciente que se apresenta com sintomas depressivos, é necessário averiguar se trata de um paciente com uma síndrome depressiva - das depressões unipolares ou um paciente com a doença bipolar. Ou seja, o médico tem que averiguar na histeria do paciente, se ocorreram episódios de humor excessivamente alegre, com aumento do nível de atividade, das doenças bipolares I ou 11. Ainda mais, nos pacientes com sintomas depressivos, mesmo sem ter ocorrido episódios de mania ou hipomania, não podemos ter imediatamente a certeza de que não se trata de uma doença bipolar, pois muitos pacientes só apresentam as crises de aceleração e alegria exageradas após alguns anos apenas com sintomas depressivos. Um elemento a mais para auxiliar no diagnóstico é examinar a ocorrência, em familiares, de episódios que foram claramente ou possam ter sido estados de aceleração da mania ou hipomania.

 

SINTOMAS DE ANSIEDADE

Muitos pacientes com depressão apresentam em alguma época da sua vida episódios de uma doença de ansiedade. Reciprocamente, muitos pacientes com doença de ansiedade apresentam episódios de depressão - esse é mais um item para o psiquiatra esclarecer. Uma certa confusão pode acontecer em pacientes com ansiedade que tenham melhorado com medicamentos antidepressivos, tais como paroxetina ou sertralina (além dos antigos antidepressivos tricíclicos, menos usados nos últimos anos). Como esses medicamentos também aliviam a ansiedade, existe o risco de que ao melhorar com um medicamento antidepressivo, um paciente com doença de ansiedade seja diagnosticado como com tendo doença uni ou bipolar sem ter realmente a doença depressiva.

Por outro lado, muitas pessoas apresentam fases de tristeza e pessimismo na sua vida, ou se sentem mal e desadaptados. Sentir-se malfrequentemente também ocorre com vários pacientes corretamente diagnosticados como tendo doença bipolar. Contudo, sentir-se mal frequentemente, numa sucessão de períodos de tristeza, angustia e sofrimento não significa, só por isso, que a pessoa tenha doença bipolar e não justifica esse diagnóstico.

 

DEPRESSÃO OU TRISTEZA

É necessário também fazer a distinção entre a depressão como doença depressiva e a tristeza, que é um sentimento situação normal e necessário, se acontecer como resposta a uma situação desagradável ou de perda que ocorra para si mesmo ou para uma pessoa querida e importante na sua vida.

A tristeza como reação normal na vida, tem um acontecimento de perda como desencadeante. É de intensidade proporcional à perda que tenha havido. A tristeza como sintoma das depressões é mais propriamente a sensação de desagrado e falta de prazer, sem que a pessoa tenha um motivo razoavel que justifique sentir-se mal.

Pode não haver limites nítidos entre tristeza e uma situação doentia. Pode também acontecer que uma situação comece como uma tristeza normal, de reação a uma perda, e se transforme em um estado doentio de depressão.

 

USO DE ÁCOOL OU DE OUTRAS DROGAS:

O médico também estará atento para a possível ocorrência do uso de álcool ou outras substancias capazes de produzir alterações mentais. Alterações mentais produzidas por álcool e outras drogas podem se manifestar de maneira parecida com as doenças de humor, especialmente os quadros maníacos. Além disso, muitas vezes acontece de o paciente com doença de humor usar álcool e outras drogas, por vários motivos, entre esses a tentativa de aliviar o seu sofrimento.

 

OUTRAS DOENÇAS NÃO PSIQUIÁTRICAS

A pessoa pode ter sintomas parecidos com os sintomas depressivos ou com os sintomas dos episódios maníacos provocados por doenças no cérebro (como infecções) ou em outras partes do corpo, como a tireoide e a glandula suprarenal e várias outras.

 

NOTA

As informações acima são apenas informativas para o paciente. NÃO TEM VALOR COMO ELEMENTOS PARA SUPOSTO AUTODIAGNÓSTICO PELO PACIENTE OU SUPOSTO DIAGNOSTICO PELOS FAMILIARES. Para o diagnóstico correto, é necessário o auxilio do médico.