Peter Emanuel Sifneos faleceu em sua casa, em Belmont, perto de Boston, em 09 de dezembro de 2008.

É frequente nos Estados Unidos que, algumas semanas após o falecimento, seja realizada uma cerimônia de homenagem à pessoa falecida, incluindo algumas breves alocuções, por alguns dos que tenham convivido com a pessoa que está sendo lembrada e homenageada.

Devido à minha ligação com o Prof. Sifneos por quase trinta anos, fui convidado por seus familiares como um dos amigos a falar nessa cerimônia.

 

Eis a tradução do que eu disse, seguido da fala original em inglês.

Em 1982, quando eu vim para conhecer de perto o trabalho do Professor Peter Sifneos, ele me recebeu de braços abertos.

E nós continuamos nos encontrando nos Congressos da Associação Psiquiátrica Norte-americana.

Então, ele me convidou para ficar com ele, na sua casa, em fevereiro de 1989. Enquanto ele ia para o seu trabalho e atividades de ensino, eu permanecia na velha casa.

Eu assisti a todas as suas fitas de videoteipe das consultas com os pacientes, também folheava seus livros de Arte e de História e ouvia músicas da sua coleção.

No fim do dia, eu tinha um Professor Titular da Harvard Medical School como meu cozinheiro particular, fazendo para mim as receitas das sopas borche da sua avó russa.

Ele me contava da sua infância, dos seus pais, do seu prazer em nadar no Mar Egeu ... dos seus dias em Paris, sua fuga para os Estados Unidos, seus anos de Faculdade de Medicina.

Após o jantar, comentávamos sobre seu trabalho com os pacientes. Eu queria entender qual era o aspecto essencial da sua abordagem. Eu já tinha conhecido em demasia terapeutas que consideravam seus pacientes algo como um tipo de pessoas más, talvez com desejos sexuais pervertidos, que tentam mentir para seus terapeutas e enganá-los.

É claro que Peter Sifneos era muito diferente.

Eu admirava a gentileza com seus pacientes, a curiosidade sobre o funcionamento mental deles, sua empatia – e sua compaixão. Peter amava pessoas - pessoas em sofrimento ele parecia amar ainda mais.

Eu perguntei como ele tinha desenvolvido sua habilidade – ele me contou que ele sempre tinha tido uma fascinação por entender o funcionamento humano. Em sua infância, observava as emoções e as interações entre suas irmãs, seu pais, seus tios e tias, seus primos.

Como Psiquiatra, ele não agia como se ele próprio possuísse a verdade – em vez disso, sua idéia era que ele poderia ajudar os pacientes a descobrirem dentro deles mesmos seus sentimentos ocultos, suas verdades e o motivo dos seus incômodos.

Ele perguntava para os pacientes:

- Isso poderia ser assim, ou poderia ser daquela outra maneira?

- Será possível que exista uma conexão entre o que você está me contando agora e aquele outro incidente que você me contou antes ?

Ele dizia

- Você está trabalhando com afinco aqui. Sei que isso pode ser difícil para você – mas não fuja – quando isso ficar às claras, vai ser muito mais fácil para você.

Nos últimos vinte anos, nós nos encontramos ao menos uma vez por ano. Duas vezes ele foi à minha cidade de Porto Alegre, no Brasil, para me homenagear e gratificar com a sua presença e os seus seminários.

E Peter me recebeu em cada janeiro, nos últimos dez anos. Os janeiros são frios, aqui em Boston - mas com Peter dentro da casa era sempre caloroso. Nós falávamos sobre nossas vidas, e nosso trabalho e nossos pacientes, nós ouvíamos musica.

Ele me contava mais histórias ... sobre seus Professores ... seus alunos ... suas viagens … sua família grega … seus amigos da Noruega.

Agora está frio de novo;

Durante o dia, pequenas coisas e acontecimentos me trazem lembranças dele;

À noite, ele está vivo nos meus sonhos.

Certamente – todos nós sentimentos muito a falta dele.

Muito obrigado.

 

Texto original em inglês:

In 1982, when I came to see the work of Professor Peter Sifneos he received me with wide opened arms.

And we kept meeting at the American Psychiatric Association events.

Then, he invited me to stay with him in February 1989. While he went to his work and teaching I stayed in the old house.

I watched all the tapes of his patients, I also browsed his Art and History books, listened to his music collection.

At the end of the day, I had a Full Professor of the Harvard Medical School as my personal cook, making for me the recipes of his Russian grand-mother borsch soups.

He told me of his childhood, his parents, his pleasure in swimming in the Aegean Sea … of his days in Paris, his flight to USA, his Medical School years.

After dinner, we commented on his work with patients. I wanted to understand what was the essence of his approach. I had already gotten to know too many therapists who considered their patients as some bad people, perhaps with perverted sexual feelings, who try to lie to their therapists and to deceive them.

Of course, Peter Sifneos was quite different

I admired the gentleness with his patients, the curiosity about their minds, his empathy - and his compassion. Peter loved people - people in suffering, he seemed to love even more.

I asked how had he developed his ability – he told me that he always had had a fascination for understanding the human functioning. In his childhood, he observed the emotions and the interactions, among his sisters, his parents, his uncles and aunts, his cousins.

As a Psychiatrist, he did not act as if he owned the truth himself – instead, his idea was that he could help the patients to discover inside themselves their hidden feelings, their truths and the reasons to their ailments.

He asked the patients: –

- Could it be this, or could it be that ?

- Is it possible that exists a connection between what you are telling me now and that other incident that you have told me before ?

He would say –

- You are working hard here. I know this may be difficult for you – but do not run away – once you get it in the open, it is going to be much easier for you.

In the last twenty years, we met at least once a year. Twice he went to my town of Porto Alegre in Brazil to honor and grace me with his presence and his workshops.

And Peter received me every January in the last ten years. The Januarys are cold here in Boston – but with Peter, inside the house, it was always warm. We talked about our lives, and our work and our patients, we listened to music.

He told me more stories … about his Professors … his students … his traveling … his Greek family … his friends in Norway.

Now, it is cold again.

During the day, small things and events remind me of him.

At night he lives in my dreams.

Surely - we all miss him very much.

Thank you.