Meus pais se separaram quando eu era pequenina; eu era filha única e até os dezesseis anos fui criada pela minha avó materna. Ela era uma boa pessoa e era boa comigo. Contudo, tinha uma atitude muito severa em relação a que eu quisesse me arrumar.

Ela era de criticar que as mulheres pudessem querer ser bonitas ou atraentes. Penso inclusive que isso também tenha influído muito na minha mãe, pois depois de separada ela nunca viveu com nenhum outro homem, parece que se isolou; meu pai refez seu casamento, com uma mulher que parecia afetuosa e era carinhosa comigo quando eu ia ficar com o meu pai nos fins de semana.

Minha avó criticava as mães das meninas que gostassem de se arrumar, se fazer bonitas, comprar roupas ou enfeites. Sempre tinha um comentário do tipo "Por que deixar as filhas gastarem com roupas e sapatos?

Sobre as minhas amigas ou coleguinhas de aula que gostassem de sair ou de festinhas, dizia "Sair tanto, por quê? Essas gurias estão atrás de homem sempre".

Eram palavras tão fortes e uma maneira tão incisiva que eu bloqueava e ficava na minha cabeça que se eu fizesse alguma coisa desse tipo eu ia ser muito, muito errada, que não podia fazer jamais, que em vez de comprar alguma roupa bonita ou sapato eu tinha que guardar o dinheiro para não ser uma guria fútil.

Alguma vez em que eu ia no salão, para cortar o cabelo ou me pentear para uma festa, ao mesmo tempo eu me sentia mal. Eu pensava que não precisava, que eu ia chamar muita atenção, que os outros iam falar. Eu me sentia quase como se fosse ficar uma mulher "perdida", uma puta.

Minha mãe dizia que tudo isso era exagero da minha avó, mas de qualquer maneira isso ficou muito forte em mim, Acho que isso me trancou e até hoje tenho dificuldade para fazer essas coisas, me arrumar e me enfeitar, embora saiba que era absurdo o que a avó falava.

E sinto muita vontade de ter um namorado, sinto muita falta; mas quando saio com um rapaz duas ou três vezes já me sinto mal, me comporto mal, perco a espontaneidade perto dele e digo para ele que não quero mais. Depois que ele vai embora, me arrependo, sofro, choro, sinto falta. Com o rapaz seguinte que aparecer eu repito tudo igual.