Conforme eu disse, o que constatamos e nos interessou muito era que os pacientes sem o benefício da psicoterapia não preenchiam nenhum dos outros critérios de avaliação de melhora, exceto por alguma melhoria ocasional de sintomas. Por outro lado, os pacientes experimentais, isto é, os que tinham recebido o tratamento imediatamente por um de nós, preenchiam a maioria dos critérios de avaliação de melhora. Assim, ficava muito claro para nós que tinha sido a psicoterapia a causa da sua melhora e não algum estimulo ambiental.
Além da avaliação dos pacientes ao fim do período de tratamento, tentamos também ver esses pacientes em entrevistas de seguimento (follow-up), em prazos tão mais prolongados quanto possível, de novo, contudo, descobrindo que era difícil continuar acompanhando pessoas através de longos períodos. Falarei disso mais tarde, pois atualmente nós temos evidência adicional, não de estudos feitos em Boston, mas de estudos que foram feitos na Europa, particularmente nos países escandinavos. Enquanto nós não pudemos obter que mais do que trinta por cento dos pacientes viessem para seguimento de ao menos dois anos, na Noruega, conforme os estudos publicados em 1985, eles foram capazes de conseguir acompanhamento de noventa por cento. Os países escandinavos, naturalmente, além desse maravilhoso serviço de saúde, os países são menores e eles conseguem que essas pessoas voltem para serem vistas e isso serviu para demonstrar, de novo, o valor da psicoterapia com um tipo de metodologia similar.
Posso mencionar um exemplo um pouco engraçado. Eu era um dos entrevistadores da uma paciente que se sentia excessivamente ansiosa, deprimida, adiando tudo, e quase em um estado de paralisia porque não conseguia decidir se deveria casar com o seu namorado ou não. Isso já havia acontecido antes, em seu relacionamento com outros homens, e ela estava preocupada de que essa indecisão se tornasse um padrão repetitivo de relacionamento com homens em geral. Então, ela queria entender porque isso era assim. Sua colega de quarto tinha se tratado conosco e, estava muito satisfeita com os excelentes resultados da sua terapia. Mais ainda, tendo sido do grupo de pacientes experimentais, ela anunciava que recebera tratamento imediato, diferente do que acontecia em geral em outras clínicas de psicoterapia. Então, a paciente anunciou que estava ali, com aqueles problemas, e pretendia iniciar a terapia imediatamente. Eu a lembrei de que não estava tão certo disso, porque isso dependia de uma escolha por sorte, de que a secretária poderia informá-la, mas que eu, como examinador, não sabia dizer quem receberia tratamento sem demora e quem seria o paciente do período de espera para controle. Aconteceu que ela foi uma paciente controle, e teve que esperar mais ou menos cinco meses, ou seja, o período durante o qual o paciente experimental correspondente a ela realizava o tratamento.
Ora, eu fui de novo um dos seus avaliadores, para ver que modificações tinham ocorrido durante o tempo da espera, sem os benefícios do tratamento. Então eu a vi, ela me cumprimentou e perguntei: "Olá, como está, você tinha problemas, estava ansiosa, deprimida, não conseguia se decidir se casava ou não. Estava numa paralisia." "Sim", respondeu, "mas estou me sentindo muito melhor". E eu disse "Ah!...”, pensei, "que pena", as ideias de Eysenck no fundo da minha cabeça. Perguntei como tinha acontecido isso e ela respondeu "Depois que eu vi o Senhor na última vez, fui até á secretária, ela olhou naquele livro grande e disse que eu teria que esperar vários meses. Fiquei furiosa, que tipo de preconceito é esse contra mim, e que tipo de clínica é essa, minha colega foi atendida imediatamente e eu tenho que esperar todo esse tempo? Assim, decidi resolver as coisas por mim mesma, comprei uma garrafa de scotch e me embebedei. Depois, peguei uma moeda e disse: 'Cara eu caso, coroa eu não caso.' Caiu cara, casei, foi a decisão certa e estou feliz. Eu disse "Ah... Tudo bem". Ela então ajuntou: "Não me diga que ainda tenho que esperar mais tempo pela minha psicoterapia". "Mas você ainda quer psicoterapia?" "Claro que quero psicoterapia", retrucou, "Quero descobrir por que havia essas coisas na minha cabeça. Imagine onde estaria eu, se tivesse caído coroa e não tivesse casado". Ou seja, motivação para o tratamento, ali na nossa frente, saltando aos nossos olhos. Influências ambientais podem certas vezes provocar melhora dos sintomas, mas somente isso, não têm nada a ver com melhora nas relações interpessoais. Claro, no caso dessa moça, ela estava numa boa situação com seu namorado. Entretanto, em termos de outras pessoas, em termos de aprendizado, aprendizado para resolver problemas e conhecimento de si próprio, nada disso acontece até que se realize o tratamento.