Passei anos envolvida, desperdiçada com remédios e com bulas:
este calmante faz bem para a ansiedade, mas pode dar náuseas,
o ânimo melhora, mas a memória fica ruim,
acalma um pouco mas o coração dispara.
Algumas vezes, corria para uma emergência e, depois de examinada, ouvia do médico apenas:
“Isso é de fundo emocional, minha filha!"
Ah! Quanta raiva! ... E dê-lhe medicamentos, calmantes, antidepressivos, sei lá - e as bulas. E mais consultas com psiquiatras, e nada, nada, nada de ver uma saída, só mais receitas e mais bulas.
Que raiva! ... Que ódio! ...
Também, com a lucidez comprometida, eu acreditava em médicos de consultas rápidas, com só o tempo de passar uma receita, em vez de poder conversar comigo; médicos que não compreendiam que o que eu precisava era de uma conversa de gente para gente, que me ajudasse a desembaralhar a minha vida e ver o quanto eu estava me dopando e desperdiçando com os calmantes, em vez de construir um rumo.
Felizmente, depois de anos mal vividos, conheci um psiquiatra de um jeito diferente, que me tratou como “ser humano”, como gente; ele gastou tempo comigo, me acompanhou com paciência, até eu compreender que eu não era "tão louca assim" e ele me ajudar a deixar os calmantes e voltar a ser eu mesma.