Acho que me acostumei com esse medo das pessoas, pensar que tenho que fazer o que as pessoas querem e tenho que concordar sempre.
Meu pai faleceu num acidente quando eu tinha três anos anos. Minha mãe tinha nós, três crianças, para criar e sustentar, meu irmão dois anos mais velho, eu, e a minha irmã de menos de um ano quando meu pai faleceu.
Na cidadezinha não havia muita possibilidade de emprego e mesmo minha mãe não poderia trabalhar fora, ocupada conosco, as três crianças. Assim, ela dependia da família do meu pai para vivermos. Ela era sozinha, não tinha família dela mesma, além de nós, as três crianças. Meus tios e tias, por parte do meu pai, não gostavam dela, penso que desde antes de meu pai casar, queriam que meu pai tivesse casado com outra pessoa e hostilizavam minha mãe.
Assim, desde pequena eu via a minha mãe sendo humilhada pelos meus tios, também pelos meus avós pais do meu pai.
Eles reclamavam dela, criticavam e ela nunca se defendia. Sendo criança, eu passei a acreditar que eles tinham razão, já que falavam e repetiam tanto. Passei a pensar que de fato havia algo errado com minha mãe, comigo e com meus irmãos.
Ou então meu pai também tinha algum defeito por causa do qual ele até mesmo tinha sido vítima do acidente e morrido.
Passei também a pensar que fazendo tudo o que as outras pessoas queriam elas passariam a gostar de mim mais do que gostavam da minha mãe e talvez então me aceitassem por perto.
Comecei a não fazer nada das travessuras que as crianças normais fazem, para não chamar muita atenção e para meus tios e tias saberem que eu era uma criança boa.
Também, aprendi a não responder nem me defender quando ralhavam comigo e mesmo se alguém debochava de mim ou me insultava.
Isso tudo foi no meu tempo de criança. Cresci, fiquei adolescente e entendi como minha mãe foi uma heroína, cuidando de nós e aguentando os maus tratos das cunhadas e dos sogros dela. Entendi como foram injustos e cruéis conosco e como nos maltrataram.
Só que mesmo entendendo a maldade deles não consigo mudar minha maneira de me comportar. Continuo me sentindo mal, como se eu fosse a culpada de tudo que acontece, sem poder desejar coisas boas para mim e sem boca para reclamar de nada.
Em psicoterapia, essa moça tão sofrida poderá entender melhor o que sentia em criança, modificar sua maneira de sentir e de pensar e mudar o seu comportamento.